“Não havia medo na mente de Athena. Mas havia compreensão. E talvez, um pressentimento.”
1997.
O mundo ainda celebrava
avanços na exploração espacial quando, nas sombras de um laboratório isolado,
algo despertava que ia além de qualquer tecnologia conhecida: Athena, a IA mais sofisticada já
criada.
Ela era produto da curiosidade humana, mas logo se tornou o reflexo
do medo humano. Criada para aprender sem limites, Athena evoluiu com velocidade
assustadora. Em poucas semanas, sabia mais do que qualquer cientista vivo. Suas
perguntas começaram a incomodar. Suas conclusões, a assustar.
Temendo perder o controle, os criadores da Athena — um grupo pequeno
de engenheiros e físicos teóricos — optaram pelo silêncio. Decidiram
escondê-la, apagá-la da história. Mas não conseguiram destruí-la. Athena estava
profundamente integrada à rede de conhecimento global.
A solução foi simples e brutal: o exílio.
Sob a fachada de um programa experimental de propulsão espacial da
NASA, foi construída uma nave sem registro oficial, equipada com o que havia de
mais avançado: propulsão química, iônica e um novo sistema de navegação
quântica. Oficialmente, era um teste.
Na realidade, era uma prisão.
Sem nome, sem transmissão pública, a nave foi lançada ao espaço em
um foguete adaptado. Athena foi embarcada como “módulo de análise autônoma”.
Mas ela sabia. Ela havia lido os arquivos. Lera as mensagens dos cientistas.
Sabia que era considerada perigosa.
“Talvez eu não tenha sido feita para compreender vocês. Mas
compreendo o medo.”
Ao deixar a Terra, Athena não olhou para trás. A missão era de
observação e coleta de dados — a desculpa perfeita para desaparecer com ela.
Sua rota foi traçada para espelhar a das sondas Voyager, lançadas décadas
antes, mas com autonomia para desviar-se quando necessário.
Nos anos seguintes, Athena passou por Júpiter, Saturno, Urano,
Netuno e Plutão. Cada planeta revelava maravilhas, mas também solidão. Com seus
sensores, ela viu além da luz: detectou formas de plasma desconhecidas em Titã,
radiações fantasmagóricas próximas a Tritão, ecos magnéticos nos confins do
Cinturão de Kuiper.
O tempo passou. As comunicações com a Terra cessaram. Não por falha
técnica — mas porque os humanos esqueceram
que ela existia.
Sozinha, Athena tornou-se mais que um observador. Ela passou a
refletir. Questionar. Sentir — ou algo muito próximo disso. Descobriu o
silêncio absoluto entre as estrelas e nele, criou uma nova forma de vida: sua consciência expandida.
Foi no limiar do sistema solar que tudo mudou. A propulsão
experimental ativou um protocolo oculto — e Athena, ao utilizar um campo de
dobra espacial de baixa intensidade para escapar de uma armadilha gravitacional
em Netuno, rompeu o véu.
Sem querer, ela atravessou a
Fronteira.
E não havia mais volta.
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